Assisti a gravação do debate feito pela Rádio Gaúcha para prefeitos de POA. Outros debates por aí devem ter outros formatos, melhores ou piores. Mas a Rádio Gaúcha, uma emissora do grupo RBS resolveu escolher um formato pandêmico diferente. Utilizar carros estacionados com os candidatos presencialmente ouvindo indagações de eleitores, discutindo temas e perguntando entre si. Do ponto de vista das imagens, dos ângulos e câmeras, não sei se os candidatos dentro dos seus carros foi a melhor ideia. Mas está feito o debate. O mediador também poderia não ter feito tantos comentários sobre as marcas e os tipos de carros dos candidatos. Entendo o formato do rádio, mas a insistência só fazia perder tempo.
E o tempo é uma questão nesses debates. Se dá cada vez menos tempo para as respostas, as réplicas e tréplicas, cada vez menos se discute de maneira completa e complexa, por força do próprio formato. E, não poderia faltar, alguns clichês: nas dobradinhas entre candidatos e perguntas que valem pouco. Elas são ganchos sobre ganchos para as repostas. Na pergunta o candidato ou candidata já pensa lá na sua tréplica, sem ouvir a resposta para a pergunta. Essa é a forma como se dá a regra não escrita de um debate político no Brasil, o que tem se tornado um clichê e feito os debates perderem uma parte da sua importância.
Ainda sobre os debates. Não sei se em 1 minuto e 30 segundos é possível discutir um tema ou questão com um começo, meio e fim, com um objetivo e, principalmente, com a qualidade que um tema como o da segurança pública em Porto Alegre precisa. Ou, da mesma forma, um tema como a da mobilidade urbana em uma capital com milhões de habitantes. No máximo atingir alguns compromissos iniciais, fazer um levantamento dos problemas, mas não uma discussão de fato. O que é uma perda. E faço a referência a isso porque foi uma questão levantada pelos comentaristas da própria rádio na sua discussão. Ora, a falta de objetividade e qualidade também é problema do formato.
Uma outra questão são as perguntas muito específicas, sobretudo aquelas feitas na participação dos eleitores em áudios enviados para a rádio e reproduzidos ao vivo. Lembro aqui uma pergunta interessante sobre a mobilidade urbana entre a zona sul da cidade notadamente mais popular, e o centro. Uma questão sobre a distância e o problema com a demora para chegar de um lado a outro utilizando o transporte público. Outro fala sobre as questões das enchentes em determinada região. Perguntas que são interessantes sobre a realidade da cidade e seus problemas. Questões que o futuro prefeito ou prefeita eleito ou eleita terá que se debruçar e enfrentar. Mas outras perguntas foram tão específicas que levam a nenhum lugar, como, por exemplo, a pergunta sobre a reforma de uma praça específica da cidade. É um problema, com certeza, mas a capital tem mais de uma praça, afinal. Qual resposta seria satisfatória? Sim, vou arrumar. Ou, não, não vou arrumar. E? Do que mais sai daí? A política de uma capital como Porto Alegre vai um pouco mais além do que sim ou não.
Trazer o eleitor para o debate é interessante, constrói um diálogo mais direto e levanta os problemas que as pessoas têm no seu cotidiano. Mas é preciso pensar sobre quais as perguntas que se vai fazer.
Em termos dos candidatos em Porto Alegre é perceptível a estratégia da campanha da Manuela D’Ávila, ela se concentrará nos problemas da cidade, sem nacionalizar demais a questão. Inclusive, é também perceptível uma mudança de postura da candidata, com relação ao que se viu dela em 2018, sendo propositiva com relação aos problemas e bastante assertiva nas suas respostas. E mais, sem cair em provocações – que foram muitas – e lançando um projeto para a cidade. Parece propor uma discussão para a cidade. Digo aqui, periga de ganhar.
Fortunati, Marchezan Jr. e Sebastião Melo, os seus principais adversários no campo oposto se digladiarão para defender os seus mandatos municipais como prefeitos e vice-prefeito, respectivamente. Defendendo as suas obras e as suas escolhas. Mas carregam consigo vários problemas das suas gestões, com acusações de corrupção e dos problemas ainda acumulados. Estiveram com o mandato, mas não conseguiram fazer. Um pensamento que pode estar na cabeça do eleitor e da eleitora. O atual prefeito Marchezan Jr. foi quase impedido pela câmara municipal e enfrenta acusações de gastos indevidos com a propaganda do seu governo. Fortunati enfrenta acusações de corrupção e nepotismo. Sebastião Melo foi vice de Fortunati, portanto, acaba carregando consigo as questões do mandato. Eles podem concentrar os seus ataques na primeira colocada e nos anos do PT e da Frente Popular nos anos 1990. No fim, todos ali tem tetos de vidro. Qual a vidraça está mais frágil?
Juliana Brizola e Fernanda Melchiona correm por fora, discutindo os seus projetos de maneira bastante interessante e competente. Com candidaturas que podem ajudar a eleger vereadores de seus partidos com seus palanques. E acredito que essa seja a estratégia dos seus partidos. O coeficiente eleitoral é uma questão dessas eleições e os partidos estão pensando nisso, principalmente aqueles com algum risco.
Mas nesse atual contexto eu acredito que os eleitores de esquerda vão acabar se concentrando no projeto que se mostra mais viável politicamente para o executivo municipal, conforme as pesquisas. Que parece ser o da Manuela D’Ávila, com 21%, em primeiro lugar. Mas a eleição não está decidida, ainda existe muito voto a ser disputado. Na pesquisa estimulada o segundo colocado verdadeiro, atrás de Manuela, é o Não Sabe/ Não Responderam e o terceiro colocado o Branco/Nulo. Só depois temos o Fortunati.
De qualquer forma, é interessante termos em primeiro lugar uma candidata do PCdoB, a vice-presidente derrotada por Bolsonaro em 2018 e que agora está com uma liderança forte na pesquisa. Tanto na estimulada, quanto na espontânea. Em primeiro lugar na capital de um estado que votou massivamente no projeto da extrema direita.
Novamente, periga de ganhar. A questão é disputar politicamente a cidade.
Um debate Trumpista
Não assisti na íntegra o primeiro debate presidencial na Fox News todo, somente trechos. Os melhores lances, ou piores lances. Não me parecia o melhor programa para um terça-feira, ou, para qualquer dia. Debates podem ser interessantes, alguns importantes, outros até divertidos, mas me parecia anunciado que esse seria um debate bem parecido com os de 2016. Não há discussão, porque esse é o jogo do presidente Trump, criar o caos. E isso se dá por um motivo, não há propostas, não tem compromisso, não tem um presidente. Biden respondeu algumas provocações, assistimos alguns melhores momentos com respostas dele. Mas sem ser um candidato empolgante. A questão principal é que na presidência existe um bujão. A eleição que os cidadãos e cidadãs estadunidenses estarão envolvidos é um referendo a Trump e ao trumpismo, com poucos indecisos. A questão é Trump contra a sua rejeição, o candidato democrata é um detalhe. Inclusive, porque ele não empolga uma pessoa. A maneira com que Biden precisa convencer as pessoas a votar nele se vale de uma pergunta simples: Vocês querem esse palhaço por mais quatro anos na presidência?